A Convergência de Grupos Autônomos do DF, em solidariedade às/aos 10 companheir@s detidas pela polícia no desalojo brutal da Ocupação Pombal, escreve com o intuito de esclarecer à imprensa que entendemos a indiciação por formação de quadrilha que recai sobre as/os ocupantes como uma tentativa de criminalização de movimentos sociais.
A Ocupação Pombal estava instalada em um prédio abandonado há cerca de 12 anos que foi propriedade de um banco, e depois de todo esse tempo, em uma ação conjunta entre pessoas e coletivos livres do DF, foi abrigo da luta por distribuição espacial igualitária e guardou os sonhos de mobilização comunitária para formação de um centro cultural libertário e auto-gerido. O prédio foi escolhido para a ocupação por estar no centro da cidade e estar sem função social há mais de uma década. A ocupação pretendia construir ali um espaço de utilidade para a vizinhança criando um local de promoção de cultura e discussão política sobre a ocupação do espaço urbano. O desalojo é mais um episódio de uma luta nacional e internacional contra as tentativas de ocupação autônoma e alternativa dos lugares abandonados dos centros das cidades.
As/os ocupantes estavam na casa desde 07 de setembro e tinham feito melhorias no imóvel, como quitação da dívida de água com a Caesb, religamento do fornecimento, limpeza do local e movimentação sócio-cultural, uma vez que a casa era local de encontro de diversas pessoas e coletivos.
Ao contrário do que foi veiculado por alguns representantes da grande imprensa, não havia tráfico de drogas no local, não houve roubo de água pública (temos os comprovantes do pagamento de R$844,00 de contas de água) e muito menos de energia elétrica, uma vez que a casa estava, desde a ocupação, sem eletricidade. A falta de luz gerou, inclusive, um grande transtorno relativo às bombas de esgoto, que estavam desligadas, impedindo que o fluxo de dejetos acumulados há anos fossem evacuados. Isso foi o estopim de um infeliz desentendimento com a vizinhança, uma vez que mesmo tendo chamado uma companhia de limpeza de fossa, alguns vizinhos se mostraram menos compreensivos e solícitos que outros que ofereceram inclusive ajuda material para resolvermos a situação.
As reportagens e notas divulgadas não mostraram, nenhuma vez, depoimentos das/dos ocupantes, o que demonstra nitidamente que também que alguns setores da imprensa está a serviço da especulação financeira. A Ocupação Pombal resistiu, durante os pouco mais de 30 dias, como uma ameaça real à especulação financeira e imobiliária que grassa no Distrito Federal, impedindo a mobilidade das pessoas e determinando os lugares em que elas podem ou não estar, se associar, construir comunitariamente alguma coisa diferente do que é permitido pela normas tácitas do mercado imobiliário. De fato, não vemos na ação da polícia nenhum outro propósito senâo o de manter a ordem imobiliária estabelecida, uma vez que nem sequer houve um pedido judicial de reintegração de posse e nem qualquer outra queixa formal contra qualquer outra atividade desenvolvida no local.
O presente ataque contra a tentativa de ocupação do espaço torna claro que a propriedade privada, e o interesse da especulação imobiliária, é considerara mais importante, por parte das autoridades e por setores da imprensa, do que a liberdade das pessoas de criarem espaços mais inclusivos e verdadeiramente comunitários.
Exigimos que as pessoas detidas sejam tratadas como PRESAS/OS POLÍTICAS/OS uma vez que nenhum crime comum foi cometido e o desalojo foi nada mais que um ato político de repressão a livre-associação e ao intento de transformar o espaço público em um genuíno espaço público.
Convergência de Grupos Autônomos - DF
Brasília, 10 de outubro de 2007
10.10.07
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